O Jardim Escolhido |
Todos os dias (segunda a sexta) às 6:30 da manhã, faço minha corrida na MacArthur Boulevard, que é a longa rua (boulevard) onde fica meu trabalho. Saio do prédio do escritório e meu trajeto vai até o castelinho lá do reservatório de água; na volta, vou até a esquina do CityBank.
Esse é um espaço de tempo muito interessante. Como o corpo está ocupado e focado no movimento, na manutenção de equilíbrio e ritmo da passada, a cabeça, sem âncoras, se libera. Idéias e reflexões vão se processando sem nenhuma interferência de minha parte. Nada deliberado. Uma gostosa sensação de sintonia com o meu eixo existencial se instala. Sou o puro ser !
O jardim da foto acima, pertence a uma casa que está nessa jornada diária de puro Ser. Adoro esse jardim! Nesse mesmo trajeto passo por outros jardins muito mais elaborados e coloridos, muito lindos, mas é esse o meu escolhido. Ele me inspira. Tenho uma relação transferencial com ele. Ele é q um pedacinho do jardim dos caminhos que se bifurcam.
Nos caminhos que se bifurcam muitas escolhas se apresentam. E, como nesses tempos perdemos a ilusão de que dispomos de idéias coesas e narrativas grandiosas que forneçam paradigmas para se pensar e decifrar a realidade imediata e global, temos que estabelecer os nossos próprios instrumentos intelectuais para pensar a nossa realidade e desconfiar de todas as ofertas de "mundo feliz" que os sistemas políticos vigentes possam, através da propaganda, e da repetição tentar nos seduzir para nos usar como instrumentos de seu desejo de poder.
No plano pessoal a luta é para corrigir a rota e inventar novos sentidos. As palavras chaves são "inventar" " criar" etc pois os sentidos antigos perderam a significação e não tenho mais modelos ou experiências indiretas que possam me servir como referências, sou um explorador, uma bandeirantes abrindo novos territórios.
Pois é; é principalmente nessas caminhadas matinais, que vou me deparando com os materiais que vem à tona quando a mente, quase como num processo onírico, está descompromissada e esquecida dos vários sistemas de sujeição introjetados; do pai, do chefe, da pátria, da ideologia, do social,do ambiente de trabalho, da moral e etc. e vai inventando sentidos diferentes. É então que visualizo escolhas, reconheço limites, imagino rotas.
O problema é saber como instrumentalizar esses possíveis sentidos de maneira que sejam implementados no real e abram espaço para novas escolhas. E, como posso saber se vou aguentar as consequências dessas escolhas? Tenho que inventar uma maneira.
OBS: Para quem não leu eu recomendo a leitura de um conto do Jorge Luiz Borges que está sempre presente em mim e que se chama " O Jardim dos caminhos que se bifurcam".